Figurações

Figurações CRAV

O ser humano sintetiza a emoção e a vida.

A sua linguagem no espaço, ou somente em um determinado espaço, é absolutamente livre. Comporta equilíbrios e desequilíbrios.

A sua primeira forma concreta de ação é ir para frente, sem perder a mobilidade, sem deixar de agir, sem deixar de viver.

Evidencia-se em sua trajetória a alegria, a felicidade, o desespero, a angústia, a solidão, a dúvida, a fé, o desejo de aniquilamento e a vontade de vencer.

Reflete conflitos, causa impacto.

Seu corpo atua como espaço de resistência e liberdade.

O fluxo contínuo que lhe é imposto estabelece a qualidade de suas relações.

Vejo o ser humano como figura central, principal em nosso mundo. Aquele que constrói, destrói e preserva.

Não procuro a exatidão dos modelos reais e sim privilegiar o gesto que define o corpo como forma, o olhar, a expressão e os traços marcantes do rosto.

A figura humana foi uma escolha natural. Surgiu em meu trabalho e foi ganhando espaço. Interessam-me as suas qualidades, suas imperfeições e as suas inúmeras possibilidades de expressão.

Márcia Guimarães
Abril de 2000

Pastel oleoso sobre papel canson 70x4 9-5cm 1999
Marcelo guache sobre papel canson 50x70 5 1999
Marcelo pastel oleoso sobre papel canson 32x44cm 1999
Marcelo pastel oleoso sobre papel canson 1999
Mulher de touca preta pastel oleoso sobre papel canson 48x33cm 1998
Guache sobre papel canson 31 8x44cm 1996
Guache sobre papel canson 32x44cm 1997
Guache sobre papel canson 44x32cm 1996
Guache sobre papel canson 44x32cm 1997
guache sobre papel canson 50x70 5cm 1999
Guache sobre papel canson 50x70cm 1997
Pastel oleoso sobre canson 43 9x31cm 1999
Pastel oleoso sobre canson 49 569cm 2000
Pastel oleoso sobre papel canson 48 1x33cm 1998
Pedro de costas guache sobre papel canson 50x70 5cm 1998

“Eu vejo o ser humano como figura central, principal em nosso mundo.

Aquele que constrói, destrói e preserva.

Me interessam as suas qualidades,

Suas imperfeições e as suas inúmeras possibilidades de expressão.”.

                                                                                   Márcia Guimarães

 

                         “Portraits”

O homem, a mulher – o ser humano. Este é o núcleo dos 16 trabalhos desta primeira mostra de Márcia Guimarães. Resultado de um longo caminho interior e de uma trajetória de estudos, em cujo percurso materiais foram sendo reconhecidos e reelaborados na construção de uma linguagem própria.

Assim, o encontro com o pastel oleoso e o guache, a descoberta das cores fortes e da densidade das camadas e misturas, convergem para uma escritura essencial: – a do objeto artístico. A figura humana.

E as figuras de Márcia falam por uma gramática particular. São retratos que desconstroem a exatidão dos seus modelos reais e que não se submetem a concretude da efígie, a evidência espetacular do corpo e do rosto.

Talvez, por isso, a expressividade de suas representações se revele como condição decifratória: – são imagens que privilegiam a harmonia da composição, mas em reciprocidade direta com uma intencionalidade temática.

O traço, perceptivelmente brusco, incisivo, às vezes evoca uma interrupção, ou um retorno sobre si mesmo, pontuando uma busca obsessiva de compreender o lugar e o espaço da figura humana, enquanto Ser-no-mundo, em confronto com sua própria finitude.

Os ângulos são efetivamente cortes – ou recortes que marcam a cisão entre a corporeidade e a idealidade. Márcia retrata a imperfeição, a falta, o Homem fragmentado, cindido, cujo olhar ora centra-se nele mesmo, ora perde-se no tempo. O detalhe, o pormenor é uma desrealidade. Desse modo, cada figura, cada relação espacial, pode significar qualquer coisa.

Tentei desfazer-me de concepções e análises da criação artística. Em vão. Não escapo da rede de palavras, buscando de algum modo nomear as imagens, ou explicar o que elas me devolvem, o ponto que nelas me retém e que, em sua instância, re-significam a oferta de uma tentativa de formular perguntas para a existência. Afinal, na arte encontramos nossos ecos interrogantes, ainda que sob o desafio de interrogar nossa emoção.

Nessa aventura de ver, de ler, de sentir os retratos de Márcia, encontrei, e reencontro, a cada nova mirada, puras metáforas da existência. Signos de prazer visual. Por isso, não obstante minha proximidade afetiva com a artista me senti com grande liberdade para fazer essa leitura de seus ‘portraits’, retratos expressivos, intitulados por ela de Figurações.

 

                                                              Thais Guimarães



Figurações Crav
Homem de calça azul e blusa vermelha pastel oleoso sobre papel canson 48x65 5cm 1998